terça-feira, 30 de outubro de 2007

O coleguinha de classe Mesa de Botequim deu a dica e eu, mais do que rapidamente, decidi aderir. Vou inclusive recomendar o movimento aos pais de certos alunos.


Não, deixa quieto. Mas que seria uma boa idéia, seria.

sábado, 27 de outubro de 2007

É por isso que eu vou morrer pobre

Passei uma semana sem dormir direito. Enfrentei um dilúvio na 25 de Março para comprar TNT (que não é um explosivo, crianças, e sim um tecido de decoração baratinho cuja sigla significa “Tecido Não Tecido” – podia ser mais idiota?). Tive meu scrapbook no orkut invadido por adolescentes ensandecidas que, a uma semana da feira cultural, se deram conta de que não ia dar tempo. Me queimei com cola quente em três lugares diferentes. Me cortei com estilete. Ouvi "Close to You", dos Carpenters, cerca de mil vezes. Devo ter ganho umas cinco varizes novas pois passei a sexta e o sábado em pé, subindo e descendo escadas e carregando tralhas. Acho que desenvolvi uma infecção urinária depois de dois dias sem fazer xixi. Desde sexta de manhã só como enroladinhos de queijo, pães de batata e outros carboidratos simples que são vendidos em cantinas escolares. Meus pés estão inchados. E, estranhamente, agora que acabou, vendo as fotos da sala sobre anorexia que montei com a sétima série, acho que valeu a pena.

P.S.: Eu ia colocar uma foto, mas acho que para vocês ia parecer só um monte de tecido colado nas paredes com umas fotos e uma televisão ao fundo. Não dá pra ter noção do quanto ficou legal! Mesmo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Rapidinha

Sabem aquelas dobraduras que a gente costumava fazer na escola para tirar um sarro dos colegas? Aquelas que abriam e fechavam um determinado número de vezes, depois a vítima escolhia uma cor, levantava a dobra e debaixo dela tinha algum elogio ou algum xingamento? Pois é. Ontem eu tive a primorosa idéia de usar a tal dobradura com a quarta série, para praticar algumas perguntas sobre rotina que os anjinhos tinham aprendido. Coisas do tipo “What time do you have lunch?” ou “What time do you brush your teeth?” Genial – eles fariam o brinquedo e, ao invés de sacanear os amigos, fariam perguntinhas inocentes. Inocente sou eu, né?
Óbvio que não funcionou. Metade da sala seguiu minhas instruções. A outra metade usou a dobradura com sua finalidade primordial. Eu só não contava com o nível das ofensas. Peguei coisas do tipo “biscate”, “puta”, “viado”, “dá buceta” e, na categoria bom português, “dá cú” e “chupa pal”. Além de maloqueiros, analfabetos.
Ah, gente, pelo amor de Deus, eles têm dez anos! Aos dez anos o máximo de ofensa que eu conhecia era “feio, bobo, cara de pastel”.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A gente bem que tenta

Reunião de trabalho sexta a noite. Mas quem precisa de vida social quando tem “Mr. Holland, adorável professor” e bolo de chocolate?
Certo, eu preciso falar sobre esses “filmes de professor”. Há dois tipos: há aquele em que um professor incauto vai parar num colégio barra-pesada cheio de futuros presidiários e, aliando o “amor ao ensino” a uma certa dose de macheza, bota ordem na zona e ainda salva a alma de uma dúzia de malacos. Nessa categoria se enquadram um punhado de filmecos da sessão da tarde e “Mentes Perigosas”, que só difere dos outros porque o professor macho em questão é a Michelle Pfeifer. O segundo tipo é “Mr. Holland”. Nesses, um professor sensível (geralmente de Música, Arte ou Literatura) luta contra um sistema frio, capitalista e cara de pastel para, no final, “tocar o coração” de seus alunos. O clássico do gênero é “Sociedade dos poetas mortos” que, confesso (não sem uma ponta de vergonha), me arrancou lágrimas na adolescência. Então tá.
Analisemos os roteiros com base na realidade. Juca é professor de Física, passa num concurso do estado e vai dar aulas lá em Jacarezinho do mato dentro, periferia da periferia de alguma grande cidade brasileira. Juca terá que ensinar as leis de Newton a um bando de repetentes que mal sabem somar, vão à escola armados e, aos dezessete anos, já tem uns três filhos cada um. Briga na saída termina, na melhor das hipóteses, em facada. Juca não tem carro, mora do outro lado da cidade, ganha uma hora-aula ridícula e ainda está pagando o financiamento estudantil que fez para terminar a faculdade particular. Façamos uma conta simples, leitor: a alma de quantos malacos nosso amigo Juca onseguirá salvar em dois anos (tempo de quitar o FIES e virar monitor de um cursinho no centro da cidade)?
Segundo caso. Mariazinha ensina Português em um colégio particular de um bairro qualquer de uma cidade qualquer. Por uma hora-aula próxima do que seria considerado decente ela prepara, corrige e arquiva centenas de provas e atividades de aproveitamento por mês, além de preencher dúzias de tarjetas e relatórios. Por uma hora-aula próxima do que seria considerado decente, Mariazinha também finje que não percebe que seus alunos leram os resumos dos livros obrigatórios e são incapazes de escrever um parágrafo coerente sobre qualquer assunto.Mariazinha se conformou com o fato de que Clarice Lispector nunca vai ser tão interessante quanto o blog da Bruna Surfistinha. Outra conta simples: o coração de quantos adolescentes Mariazinha conseguirá tocar em três anos (tempo de terminar a pós e ir dar aula numa UNINOVE da vida)?
Aposto uma canetinha de gel que até os alunos do professor Juca conseguiriam fazer estas contas. Nem o Cronenberg, se resolvesse fazer um “filme de professor”, daria conta. A coisa tá feia, criançada.

Da série: pelo menos eu estou sendo paga para ouvir isso

Pérolas pós-reunião de pais:

"Sabe, professora, a Mari vai tão mal na sua matéria que eu estou começando a questionar a maneira como a senhora dá aula."
Comentário: A Mariana nunca leva o material e passa a aula toda ajeitando a franja no espelhinho. Ah, o senhor é engenheiro? Posso questionar a maneira como o senhor constrói prédios?

"Eu acho que vocês deveriam ser mais criativos nas suas aulas. Por exemplo, quando eu estava no cursinho, eu tinha um professor que ia trabalhar vestido de Zorro."
Comentário: Semana que vem tem aula sobre o descobrimento do Brasil. Tudo bem se a professora vier pelada, de índia? E ilustrar o massacre dos nativos da América do Sul ao vivo, pode?

"É, o Matheus não tem feito as lições de casa, mas é porque eu senti que ele anda muito estressado e precisa brincar mais."
Comentário: Veja bem, minha senhora, eu tenho três empregos e também ando muito estressada. Acho até que, num sábado de sol como esse, eu precisaria estar na piscina, mas como eu tenho o mínimo de noção, acordei cedo e vim até aqui ouvir esse tipo de coisa.

"Meu, sabe como é, o Caio é moleque, é assim mesmo, tacar fogo no material é o de menos, relaxa..."
Comentário: Se o senhor completar a frase, em caso de assassinato, qualquer juiz me dará razão.

"Eu vou questionar o método sim, porque eu sou pedagoga 100% construtivista."
Comentário: Pedagogos do meu Brasil varonil, me expliquem - como faz?

"É que o pai dele disse que, toda vez que alguma coisa não o interessasse, era pra ele começar a desenhar."
Comentário: Claro que se o menino não se tornar um Frank Miller no futuro, a culpa será das professoras que podaram seu talento.

"Ela adora inglês! Sabe cantar todas as músicas do Rebelde!"
Comentário: Que a senhora permita que sua filha de seis anos idolatre um bando de biscates mexicanas, problema seu. Mas não precisa ofender.

Sim, estas pessoas estão criando futuros cidadãos. Tenham medo.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Picles de dia dos professores

-Ah, eu não sou uma boa professora. Eu não sei contar piadas e meus alunos da sétima série me odeiam.
Prontodesabafei.

-Não estou com saco para textinhos irônicos sobre o dia dos professores (mas ganhei cookies com gotas de chocolate - dividi com meus colegas no intervalo porque, por incrível que pareça, eu não gosto de cookies).

-Lembrei de um cara da época que eu estagiava em um colégio público. Segundo ele, os professores estão pagando o karma da inquisição. Em vidas passadas nós queimamos bruxas, perseguimos judeus e por isso hoje estamos aqui sofrendo.

-Ainda segundo ele, nós não estávamos lá para ensinar. Estávamos lá para ocupar o tempo dos alunos e evitar que eles fiquem na rua roubando, pichando ou procriando.

-Vou parar por aqui, estou muito amarga (devia ter comido os cookies).

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Da série: "Toda classe tem um"

O Gordinho Mala

Não se trata de preconceito com os mais roliços. É apenas um fato. Desde as primeiras séries do ensino fundamental, o gordinho mala-sem-alça estará lá, sorriso abobado, mancha indefinida na camiseta, ar permanente de quem está prestes a soltar um pum. Todos odeiam o gordinho chato, não por ele ser gordinho, mas porque tudo que ele faz parece ter como único objetivo irritar alguém. Ele cutuca todo mundo. Fala sozinho. Conta piadas sem graça. Puxa o cabelo das meninas. Nunca tem borracha nem lápis e, quando o tem, usa para enfiar no nariz e com ele ameaçar quem está por perto de levar um “catotada”. O gordinho mala é, além de tudo, pouco higiênico.
A professora também é vítima, obviamente. O gordinho adora grudar na mesa dela. Pede para ir ao banheiro a cada dez minutos (e sempre com aquela irritante cara de choro) e, se a incauta negar, receberá no dia seguinte um bilhete furioso da mãe (que invariavelmente se parece com a Miss Piggy) do garoto. Porque além de chato, ele aparentemente tem problemas intestinais. E ainda, salvo raras exceções, o gordinho chato sempre fica de recuperação.
Nem todo gordinho é chato, devo acrescentar aqui. Nem todo chato é gordinho, tampouco. Mas as duas características juntas formam uma classe de chatos para a qual ainda não se encontrou uma solução satisfatória. Apanhar dos mais velhos, ser rejeitado pelas meninas, ser execrado pelos professores. Nada disso impede o pequeno roliço de continuar infernizando os outros. Algo me diz que eles se divertem com nosso sofrimento e nossa cara de asco cada vez que eles fazem alguma coisa desagradável. No fundo os gordinhos malas são é sádicos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Negociando

Diabinho da segunda série chega até a minha mesa, me estende a mão e diz:
- Parabéns, hoje é seu dia de sorte.
- Ah, é? Posso saber por quê?
- Porque a tarde tem futebol e se eu fizer bagunça na sua aula eu não posso jogar.

Claro que, se a criatura depender de bom comportamento pra treinar, vai conseguir, no máximo, uma vaguinha de reserva no ASA de Arapiraca.