sábado, 26 de maio de 2007

Humor involuntário na aula de inglês

Precisando dividir a quarta série em dois grupos sem iniciar a terceira guerra mundial, separei duas pilhas com figuras de animais e de frutas (eram os cartões que eu tinha disponíveis - preguiça de subir escadas pra pegar outros) e as distribuí aleatoriamente entre as crianças. Enquanto elas se agrupavam, como numa previsão sacana, eis que o garotinho afeminado, de fala fina, que só anda com as meninas sai, saltitante, do fundo da sala abanando alegremente um cartão com o desenho de um morango e gritando "Eu sou uma fruta! Eu sou uma fruta!".
As leis da entropia não permitiriam jamais que ele pegasse o cartão com o desenho do tigre, por exemplo.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Escolinha do Chaves

Acho que praticamente todo brasileiro entre doze e trinta anos já assistiu a um episódio do Chaves no qual o professor Girafales pergunta:
_ Chaves, se eu tenho duas laranjas e ganho mais duas, com quantas laranjas eu fico? _ à qual nosso herói prontamente responde:
_ Professor, essa eu sabia com maçãs.
Pois bem. Ontem apliquei uma atividade para o segundo ano do ensino médio. Coloquei algumas frases na lousa e acredito ter deixado bem claro que eles deveriam substituir as expressões grifadas por outras, estudadas previamente.
Quinze minutos depois, folhas de caderno começaram a ser deixadas sobre a minha mesa (a atividade valia nota). Percebi que a maioria dos jovens gênios tinha apenas encaixado as novas expressões aleatoriamente nas frases, sem tirar a parte grifada. A contragosto, tive que intervir:
_ Pessoal, é fácil. Se aquela lâmpada queimar e precisar ser substituída, vocês vão fazer o quê? Colar a lâmpada nova do lado e deixar a queimada lá?
_ Quê?
Quase todas as atividades foram entregues com o mesmo defeito. Estou dando aula para a escolinha do Chaves.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Trauma

Munida dos fantoches, do CD com musiquinhas meigas e irritantes e do livrão de colorir, eu rumava quarta-feira para a sala do primeiro ano ou, como chamaria Ralph, do Senhor das moscas, “the littluns” quando fui avisada pela coordenadora:
_ O João está proibido de sair para ir ao banheiro.
O João tem seis anos e como quase todo mundo na idade dele, uma certa dificuldade em controlar o esfíncter. Só que o pequeno em questão já tinha percebido a condescendência das professoras diante de tal dificuldade, e saía da sala constantemente, muito mais que o necessário. Mas ele tinha que ser castigado bem na minha aula?
Mal deixei minhas coisas sobre a mesa, ele pediu. Neguei. Expliquei que a coordenadora tinha proibido. Ele aparentemente se conformou e correu para o fundo da sala para empurrar um dos colegas que estava mexendo em seu estojo. No decorrer da aula, ele insistiu. E mais uma vez, e mais uma. Comecei a achar que era sério, mas decidida a colaborar na educação da bexiga dos “littluns”, segui firme negando. Outra professora entrou na sala – João pediu a ela, que respondeu com o mesmo argumento:
_ A coordenadora não deixa.
Aula quase no final, eu dava os últimos retoques nas máscaras de urso que tínhamos feito para o teatrinho da semana que vem, João se pendura choroso na minha mesa:
_ Eu não vou agüentar...
_ Certo, mas eu te levo ao banheiro e você se explica com a Lúcia, tudo bem?
Mal me levantei, e o pior aconteceu. João molhou as calças. Chorando, ele me olhava. Sabia que não podia ficar ali parado, mas se andasse seria alvo das risadas dos colegas. Aos poucos cedeu, me deu a mão e foi me seguindo até a bibliotequinha, misto de enfermaria, sala da coordenação e dos professores. Não sei quem estava mais em pânico, ele ou eu. Ao ver minha cara de desespero, Lúcia riu, levou o pequeno ao banheiro e me consolou com um “isso acontece”. Mas eu sou grande, eu esqueço. Ou melhor, eu entendo que há coisas muito piores por aí. E o João? Alguma coisa na vida de um menino de seis anos pode ser pior que fazer xixi nas calças no meio da sala de aula? Duvido.
Sabe qual é meu maior medo? É que o João, por conta desses mecanismos sacanas do nosso subconsciente, nunca esqueça o dia em que molhou as calças na frente da professora. Que ele nunca esqueça do rosto da criatura malvada que fez isso com ele. Eu.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Como sobreviver, de TPM, a duas terceiras séries juntas.

1. Não chore. Então a coordenadora decidiu de repente que você terá que dar três aulas seguidas para 40 crianças entre oito e dez anos justamente no dia que seus hormônios resolveram se rebelar contra o resto do seu corpo? Ora, não é motivo para pânico.
2. Não mate ninguém. Parecerá inevitável quando o garotinho afeminado da segunda fileira começar a gritar com uma voz mais aguda que a da Barbie, mas acredite: diante de pais inconsoláveis, nenhum juiz lha dará razão (a menos que seja mulher, tenha quatro filhos em idade escolar e esteja “naqueles dias”).
3. Não grite. Quando 40 crianças se juntam é muito pouco provável que fiquem em silêncio, ainda que o papa esteja passando. Competir com elas é, portanto, inútil.
4. Tente não estrangular o zelador que desliga a chave geral para reparos a cada quinze minutos, apagando as luzes e provocando comoção generalizada na turma.
5. Não deixe ninguém ir ao banheiro ou beber água. Levando em consideração que eles são muitos e que aparentemente sede e vontade de fazer xixi são contagiosas, se o primeiro tiver permissão você passará o resto da aula controlando entradas e saídas.
6. Delegue. O gordinho do fundo não entendeu? Mande o baixinho CDF da primeira carteira explicar a ele. O baixinho se sente importante, o gordinho faz a lição e você não precisará repetir a mesma explicação pela vigésima vez.
7. Quando tudo falhar, tente a forca (o jogo, não o método de eliminação).
8. Como último recurso, apele para a arte. Distribua folhas sulfite e sugira um “desenho livre”.
9. Reze. De repente você dá sorte e a energia elétrica acaba de vez, o PCC resolve atacar o seu bairro, você tem um ataque cardíaco... Quem sabe...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Coleção outono-inverno parte 2

Voltando do colégio hoje de manhã, chego a uma triste conclusão - o avental branco, na verdade, não tem nada a ver com um uniforme de enfermeira. Parece sim a roupinha da moça da pastelaria da esquina.

domingo, 6 de maio de 2007

Tia Paula vai à ERVA

Erva é o nome do evento. Seria sugestivo, não fosse a situação. Não me perguntem o que significa tão infeliz sigla, visto que o mesmo não foi esclarecido na palestra. Nós, funcionários exemplares e dedicados, já deveríamos saber há muito tempo. A verdade é que, apesar do nome, não aconteceu nada de muito divertido, só a mesma lenga-lenga motivacional e uma coleção de clichês que me fez sentir muita vergonha alheia, coisa freqüente nas reuniões do colégio.
Começou com um café da manhã que pretendia integrar os funcionários dos diversos setores. Não funcionou, pois é natural do ser humano não se integrar a menos que seja obrigado a isso. Por todo lado só se viam grupinhos de pessoas que já se conheciam.
Em seguida veio a palestra: lema do grupo (“Melhor que ontem, pior que amanhã”) em grandes letras vermelhas no telão. Pode ser implicância minha, mas um lema que contém a palavra “pior” não me parece muito bom. Voz misteriosa pede a todos que fiquem de pé para cantar o hino nacional, e enquanto o mesmo toca, rolam no telão imagens de bebês, paisagens, atletas comemorando a vitória. Quando o hino acaba, vejo todos com cara de “será que alguém vai bater palmas?” Ninguém bate. Entra um vídeo a la Filtro Solar sobre atitude, com cenas de pessoas felizes e Dreams, do Cramberries, tocando no fundo (“All my life/ is changing everyday/in every possible way) . Um dos sócios do colégio sobe ao palco e desenrola um novelo de frases feitas que começa com um “convite à reflexão” e termina com um sensacional “vamos dar uma imensa salva de palmas a todos nós”. Eu preferia estar fazendo um exame de papanicolau. Para completar, no telão, vemos um trecho de um filme que imagino ser “1492 - A conquista do paraíso”, no qual o Gerard Depardieu tenta instalar um sino com a ajuda de uns índios, uns padres e uns bois. O outro sócio sobe ao palco e declara: “Nosso sonho é, com a ajuda de vocês, colocar o sino lá no alto!”. Aplausos efusivos. Vergonha alheia atingindo níveis nunca vistos.
Quase esqueci: entre uma coisa e outra teve “teatrinho corporativo” para explicar o novo sistema de atendimento telefônico do colégio e divulgar os cursos de informática básica para os funcionários. Maior quantidade de risos amarelos por metro quadrado já presenciada naquele auditório.
Salva pelo meu outro trabalho, fui embora na hora do coffee-break. Constava no programa que depois haveria dinâmica de grupo. No fundo senti não poder ficar – tenho certeza que daria outro post. Muito mais engraçado que esse.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Bingo corporativo para reuniões pedagógicas

Entediado nas reuniões pedagógicas?

Cansado de ouvir sempre a mesma ladainha?

Apresentamos o sensacional bingo corporativo versão escolar - selecione as frases, coloque-as nas cartelas e garanta momentos de descontração enquanto a projeção de slides não termina:

Ensinar a aprender

Atualização de diários

Teoria e prática

Múltiplas inteligências

Objetivos pedagógicos

Consciência ambiental

Planejamento

Vida escolar

Construção da cidadania

Trabalho em equipe

Controle de sala

Disciplina

Responsabilidade social

Relação professor-aluno

Ambiente propício ao aprendizado

Vestir a camisa

Interdisciplinariedade

Basta riscar as frases selecionadas à medida que são ditas - o primeiro a preencher a cartela ganha um capuccino e um pão de queijo.