sábado, 11 de agosto de 2007

Fim da história

O André ontem cansou de ser bem educado e deu uma surra no Fabiano. Segundo a professora que estava na sala, ela demorou, propositalmente, alguns minutos para intervir. Achei digno.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Momento fofo do dia

O anticristo tem nome, sobrenome e está matriculado na segunda série de um colégio particular em Perdizes. Fabiano tem oito anos e briga feito gente grande. Espera os menores na porta da sala e grita coisas do tipo "você tá ferrado na minha mão". Arranca o tênis das meninas e ameaça as professoras com isso. Morde. Esperneia. Grita a níveis que até então não sabíamos ser capaz a voz humana. No primeiro dia de aula, de posse de uma etiqueta na qual devia escrever seu nome, colocou na mesma a palavra "cuzão" e colou nas costas do colega da frente. E hoje o Fabiano, pela primeira vez em dois anos, ficou sem reação.
Acontece que, sem querer, o monstrinho mexeu com a pessoa errada. No meio de um exercício do livro, chutou a canela do André, aluno novo, porque este se recusou a emprestar-lhe um lápis de cor (atitude sábia, já que o Fabiano tem um buraco negro nas mãos). A coordenadora, que passava no corredor bem na hora, entrou, agarrou o agressor pelo braço e o colocou diante do agredido.
"O que o Fabiano fez pra você, André?"
"Ele chutou minha canela."
"E o que você está com vontade de fazer agora?"
"Bater nele."
"Então bate. Pode bater, eu dou permissão."
"Eu não vou fazer isso, não sou mal-educado."
O Fabiano nem esboçou reação. Abaixou a cabeça e seguiu a coordenadora sem um sinal de protesto. Achei fofo, fato, mas estou esperando para ver até quando tanta educação vai durar.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Talvez alguém espie este blog de vez em quando e se pergunte que tipo de aluna eu fui, para andar por aí cagando regras e julgando a incompetência alheia. E eu, mais que satisfeita lhe responderei, caro leitor: não lembro.
É estranho, mas tenho a impressão que boa parte das minhas memórias dos tempos de escola se apagaram, não sei bem por quê. “Defesa!”, gritariam os psicanalistas de plantão, e eu me veria obrigada a concordar com eles. Eu não gostava da escola. Gostava de estudar, puxar o saco da professora, tirar dez. Tinha entranhado um gene CDF que infelizmente se perdeu na faculdade, ou teria feito de mim uma PhD aos 28 anos. Fora isso, a escola era um desastre.
Você há de concordar comigo, leitor: a escola é um ambiente desconfortável. Você tem que acordar cedo, usar roupas feias que podam sua individualidade, passar seis horas dentro de uma sala barulhenta e ainda é ferozmente repreendido diante da menor manifestação de discordância. Além disso, é periodicamente humilhado por ser muito alto, muito baixo, gordo, magro, usar óculos, aparelho, enfim, ser normal. Não pode ser mentalmente saudável crescer assim.
Eu sobrevivi. Depois de um recalque danado e muito trabalho para esquecer as coisas, tornei-me uma adulta moderadamente equilibrada, com leves problemas de auto-estima que se resolvem com sapatos novos ou um elogio bem colocado. No final quase todos sobrevivem com mais ou menos sucesso, mas, não sei não... Algo me diz que, se não fosse pela escola, muito terapeuta por aí andaria sem pacientes.