terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Lavagem cerebral

Os coleguinhas que acompanham meu outro blog sabem que passei janeiro fazendo um curso chamado CELTA, para tirar uma certificação internacional de professora. O curso é difícil, sofrido, exigente e blá blá blá.
Entre as milhares de coisas que nós treinamos, há uma chamada ICQ (Instructions Check Questions) que são basicamente perguntas que são feitas aos alunos (em inglês, claro) para garantir que eles entenderam o que têm que fazer. Por exemplo: "Vocês vão escrever nessa atividade?" "Quanto tempo vocês têm para terminar?" e por aí vai. Parece meio bobo, mas garanto, é su-ces-so. As atividades rendem absurdamente mais quando a gente faz isso.
Só que a certificação é voltada para o ensino de adultos, né? Entretanto, tal qual uma lavagem cerebral, me peguei ontem tendo o seguinte diálogo com a quarta série:

Little monster 1: "Teacher, o livro de inglês ainda não chegou..."

Little monster 2: "Minha mãe disse que só chega na quinta-feira!"

Tia Paula: "Tudo bem, gente, nós só vamos usar o livro na segunda-feira que vem."

Little monster 1: "E o caderno?"

Tia Paula: "Vamos usar o caderno nessa quarta-feira para fazer a capa."

Início de burburinho.

Tia Paula: "Turma, prestem atenção. Vocês têm que trazer o livro nessa quarta-feira?"

Little monsters: "Nããããããão."

Tia Paula: "Vocês têm que trazer o livro segunda-feira que vem?"

Little monsters: "Siiiiiiiiiiiim!"

Instruções checadas. Vamos ver se a técnica funciona com menores de 16 anos também.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Falando sério

Uma colega que trabalha comigo no colégio costuma dizer que o sonho dela é trabalhar numa escola de órfãos. Isso porque alguns anos de experiência já nos ensinaram que o que estraga as crianças são exatamente pais, tios, avós e relacionados.
Ontem, passeando nesse mundão chamado internet, achei esse vídeo - é o trailer de um documentário sobre crianças e consumo:

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É pra assistir e querer matar, principalmente a mãe ruiva que diz que compra a comida que o filho manda.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Denúncia

Que está cheio de pai e mãe por aí que deveria fazer melhor uso deste produto mostrado no meu outro blog, isso todo mundo já sabe. Mas tem gente que deveria ser esterilizada de vez. Ter o útero arrancado, ser vasectomizado aos 15 anos. Por exemplo, os pais desse garotinho aqui:Bonitinho, não? Mas vocês leram a legenda? Sim, ele se chama Adolph Hitler e virou notícia porque uma confeitaria se recusou a escrever "Happy Birthday Adolph Hitler" no seu bolo de aniversário. Podia ser pior? Claro, a irmãzinha dele se chama Aryan Nation. Obviamente isso já seria motivo suficiente para mandar o brilhante casal que batizou essas duas crianças para um campo de concentração de pais sem noção, mas outras questões importantes foram levantadas pelos leitores do site de onde tirei a notícia:
a) Que tipo de gente escreve o nome inteiro da criança num bolo, afinal? Tipo "Felicidades, João da Silva"?
b) O coitadinho tem três anos e usa mullets. Se isso não é abuso infantil, eu não sei mais o que é.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Tia Paula vai à dinâmica

Todo mundo que já procurou emprego alguma vez nessa vida deve ter passado pela famigerada "dinâmica de grupo". As dinâmicas podem variar de acordo com o cargo, mas acho que numa coisa todas se parecem: são um pé no saco. Isso quando não fazem o indivíduo se sentir com cinco anos de idade.
E aí Tia Paula hoje foi a um destes maravilhosos eventos da vida corporativa. O cargo: professora de inglês para crianças em uma escola famosa especializada em petizes.
Havia cerca de trinta pessoas, das quais só três homens (oi, professor de criança é profissão de vi-a-do - sem preconceitos, beijos). Entre os três caras tinha um chamado Raoni - uma bichinha que teve a cara de pau de dizer que Raoni significa tigre em Tupi (alguém me explica como os índios deram nome para um bicho que eles não conheciam? É como a pessoa dizer que se chama Estramolofifa e que isso significa "sol escaldante" em língua esquimó). E, sim, todo mundo riu do mocinho delicado dizendo que seu nome significa "tigre". Foi um tanto constrangedor.
Nos avaliando, três moças sorridentes, coordenadoras de filiais diferentes. A tarefa era criar um cartaz com desenhos e colagens que nos representassem. Para isso tínhamos 20 minutos. Em seguida, todo mundo tinha que explicar sua "obra de arte."
Primeiro: eu sou uma pessoa caótica. Vinte minutos para me representar numa colagem? Sério? E me estapear com outras 29 pessoas por um estojo de canetinhas definitivamente não estava nos meus planos nesta manhã. Enfim, fiz, aos trancos e barrancos, algo que quase poderia ser considerado compreensível. Mas foi na hora da explicação que eu achei que não sobreviveria.
As apresentações foram em ordem alfabética. Considerando que meu nome começa com P e não havia nenhuma Priscila, Tatiana, Vanessa ou Wilma no recinto, sim, eu fui a última a apresentar. Passei quase uma hora ouvindo gente mostrando cartazinhos e dizendo que "adora música, bichos, crianças, literatura e odeia falsidade." Vinte e nove vezes. Eu contei. Cada um que se levantava era um pedaço da minha paciência que se esvaía. Minha única preocupação era que ela acabasse antes de chegar a minha vez.
As coordenadoras prestavam a maior atenção e anotavam tudo. Não que fosse alguma novidade. Elas esperavam o que, por acaso?
"Meu nome é Mariazinha, tenho 25 anos, gosto de vodca, cigarro e sexo sem compromisso. Odeio acordar cedo. Sou depressiva, bipolar e tenho dificuldades de relacionamento. Também não gosto muito de crianças não, só estou aqui porque tenho uma dívida de jogo imensa e preciso pagá-la antes que meu corpo amanheça boiando no Tietê"

Sinceridade é o futuro do mercado de trabalho.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

As vezes vale a pena

Momento ternura:
A petiz me entrega um bilhetinho depois da prova. No dito cujo, um acróstico. Já sabem, né? Acróstico é aquele treco que tia velha e criança adora, que é fazer poeminhas começando cada verso com as letras de uma palavra. O meu era:

P erfeita
A legre
U ltra legal
L inda
A miga

Olha, gente, quando você tem nove anos fazer um acróstico com U deve dar um certo trabalho. Achei fofo.

Momento humor:
Dois pequenos discutindo. Um vira para o outro e diz:
"Você se acha a última bolacha do pacote, né? A última bolacha do pacote tá sempre esfarelada!!"

De vez em quando acontecem umas coisas e eu quase acho que vale a pena.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Roupa suja se lava no blog

Desculpem a insistência no assunto, mas repito a analogia - é como fim de namoro. Tem que falar para exorcizar.
O que foi alegado no momento da minha demissão:
- Os alunos e os pais vinham reclamando de mim.
Admito, eu andava um cu, pelos motivos citados no post abaixo. Mas se a as relamações eram tantas a ponto de motivar minha demissão, como é que eu só fui informada delas ali naquela hora, quando o alçapão da forca já tinha sido puxado e eu não podia fazer mais nada? Como é que não foi me dada a chance de tentar mudar minha atitude?

- Eu tinha dito uma coisa (que ela não lembrava qual era) que a tinha deixado chocada (a coordenadora) e a fez questionar minha capacidade de professora.
Ok. Você não lembra. Então obviamente deve ter sido algo muito relevante. Fora isso, você é minha chefe. Se eu disse algo que a chocou por que você não me confrontou naquela hora e me fez ver que era um absurdo? Você tem todo direito de fazer isso, mas como você não se lembra do que era eu posso simplesmente argumentar que era um idiotice e que você está procurando motivos para justificar meu enforcamento ordenado pelo chefão-mor.

- Eu não estava fazendo as provas de acordo com as diretrizes do colégio.
Eu estava. E ao pedir para que ela pegasse as provas para ver, ela não quis. Não quis porque as dela e as de outros professores queridinhos é que não são feitas de acordo com as diretrizes.

Definitivamente não dá. Não dá para levar a sério um colégio que dá ouvidos a reclamação de aluno de colegial noturno, que é um bando de semi alfabetizados que passa a aula inteira de costas para o professor jogando bolinha de papel. E não é só comigo. Com todo mundo.
Não dá para levar a sério um colégio no qual todo mundo passa de ano, no qual a coordenadora tem medo dos pais dos alunos e no qual a oitava série pode fazer o que quiser (inclusive rasgar material de colegas) e sair impune.
Não dá pra levar a sério um colégio no qual a moça da editoração apita mais que os coordenadores (não é preconceito, mas cada um no seu quadrado, né?)
Não dá pra levar a sério um colégio no qual professores absolutamente irresponsáveis continuam trabalhando porque são amigos do chefão.

Eu sei que este post parece mágoa de caboclo pela demissão, mas garanto que não é. É só algo que eu via desde que comecei a trabalhar lá mas por questões éticas não colocava aqui (porque sei que alguns professores de lá lêem o blog). Agora que me mandaram embora, que se danem. Tô lavando roupa suja aqui mesmo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fui mandada embora de um dos meus três trabalhos. Foi péssimo porque não existe essa coisa de "vamos mandar a pessoa embora mas que ela não saia daqui se sentindo uma loser completa." Eu me senti uma loser completa. Principalmente porque o discurso ficou parecido com aqueles de namorado que você não agüenta mais - você começa a desenterrar picuinhas de mil novencentos e trilili e procurar motivos para dar um fim naquilo quando na verdade só há um motivo: já deu.
Já tinha dado desde o meio do ano. Eu não me dava bem com vários alunos. Eu estava de saco cheio da falta de profissionalismo de certas pessoas e de viajar muitos quilômetros e de ter que dormir fora da minha casa uma vez por semana. Eu não dormia mais direito de domingo para segunda (dia das minhas aulas lá). E eu ganhava mal para agüentar tanta encheção. Isso, obviamente, se refletiu no meu trabalho. Que esse ano, admito, foi feito nas coxas.
Ser demitida e ter que ouvir que é porque eu sou uma merda de professora doeu. Mas naquele contexto era verdade e eu não serei hipócrita de colocar a culpa nos outros. O jeito é tocar pra frente e esperar ter aprendido alguma coisa com isso. No fundo, foi como levar um pé na bunda de um namorado ruim - na hora dói, mas logo a gente percebe que foi melhor assim.

A boa notícia é que o blog voltará a ser público já que eu não trabalho mais lá! Eba!