quinta-feira, 27 de novembro de 2008

As vezes vale a pena

Momento ternura:
A petiz me entrega um bilhetinho depois da prova. No dito cujo, um acróstico. Já sabem, né? Acróstico é aquele treco que tia velha e criança adora, que é fazer poeminhas começando cada verso com as letras de uma palavra. O meu era:

P erfeita
A legre
U ltra legal
L inda
A miga

Olha, gente, quando você tem nove anos fazer um acróstico com U deve dar um certo trabalho. Achei fofo.

Momento humor:
Dois pequenos discutindo. Um vira para o outro e diz:
"Você se acha a última bolacha do pacote, né? A última bolacha do pacote tá sempre esfarelada!!"

De vez em quando acontecem umas coisas e eu quase acho que vale a pena.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Roupa suja se lava no blog

Desculpem a insistência no assunto, mas repito a analogia - é como fim de namoro. Tem que falar para exorcizar.
O que foi alegado no momento da minha demissão:
- Os alunos e os pais vinham reclamando de mim.
Admito, eu andava um cu, pelos motivos citados no post abaixo. Mas se a as relamações eram tantas a ponto de motivar minha demissão, como é que eu só fui informada delas ali naquela hora, quando o alçapão da forca já tinha sido puxado e eu não podia fazer mais nada? Como é que não foi me dada a chance de tentar mudar minha atitude?

- Eu tinha dito uma coisa (que ela não lembrava qual era) que a tinha deixado chocada (a coordenadora) e a fez questionar minha capacidade de professora.
Ok. Você não lembra. Então obviamente deve ter sido algo muito relevante. Fora isso, você é minha chefe. Se eu disse algo que a chocou por que você não me confrontou naquela hora e me fez ver que era um absurdo? Você tem todo direito de fazer isso, mas como você não se lembra do que era eu posso simplesmente argumentar que era um idiotice e que você está procurando motivos para justificar meu enforcamento ordenado pelo chefão-mor.

- Eu não estava fazendo as provas de acordo com as diretrizes do colégio.
Eu estava. E ao pedir para que ela pegasse as provas para ver, ela não quis. Não quis porque as dela e as de outros professores queridinhos é que não são feitas de acordo com as diretrizes.

Definitivamente não dá. Não dá para levar a sério um colégio que dá ouvidos a reclamação de aluno de colegial noturno, que é um bando de semi alfabetizados que passa a aula inteira de costas para o professor jogando bolinha de papel. E não é só comigo. Com todo mundo.
Não dá para levar a sério um colégio no qual todo mundo passa de ano, no qual a coordenadora tem medo dos pais dos alunos e no qual a oitava série pode fazer o que quiser (inclusive rasgar material de colegas) e sair impune.
Não dá pra levar a sério um colégio no qual a moça da editoração apita mais que os coordenadores (não é preconceito, mas cada um no seu quadrado, né?)
Não dá pra levar a sério um colégio no qual professores absolutamente irresponsáveis continuam trabalhando porque são amigos do chefão.

Eu sei que este post parece mágoa de caboclo pela demissão, mas garanto que não é. É só algo que eu via desde que comecei a trabalhar lá mas por questões éticas não colocava aqui (porque sei que alguns professores de lá lêem o blog). Agora que me mandaram embora, que se danem. Tô lavando roupa suja aqui mesmo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fui mandada embora de um dos meus três trabalhos. Foi péssimo porque não existe essa coisa de "vamos mandar a pessoa embora mas que ela não saia daqui se sentindo uma loser completa." Eu me senti uma loser completa. Principalmente porque o discurso ficou parecido com aqueles de namorado que você não agüenta mais - você começa a desenterrar picuinhas de mil novencentos e trilili e procurar motivos para dar um fim naquilo quando na verdade só há um motivo: já deu.
Já tinha dado desde o meio do ano. Eu não me dava bem com vários alunos. Eu estava de saco cheio da falta de profissionalismo de certas pessoas e de viajar muitos quilômetros e de ter que dormir fora da minha casa uma vez por semana. Eu não dormia mais direito de domingo para segunda (dia das minhas aulas lá). E eu ganhava mal para agüentar tanta encheção. Isso, obviamente, se refletiu no meu trabalho. Que esse ano, admito, foi feito nas coxas.
Ser demitida e ter que ouvir que é porque eu sou uma merda de professora doeu. Mas naquele contexto era verdade e eu não serei hipócrita de colocar a culpa nos outros. O jeito é tocar pra frente e esperar ter aprendido alguma coisa com isso. No fundo, foi como levar um pé na bunda de um namorado ruim - na hora dói, mas logo a gente percebe que foi melhor assim.

A boa notícia é que o blog voltará a ser público já que eu não trabalho mais lá! Eba!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Genialidade

Em dez anos de magistério eu achei que já tinha tido provas suficientes de que essa história de que não existe gente burra é balela. Entretanto, de vez em quando acontece alguma coisa para renovar a minha total falta de fé na humanidade.
A prova de redação continha um texto sobre o selo procel. Quando foi instituído, para que serve, que tipo de aparelho o recebe e blá blá blá. A proposta pedia que o aluno elaborasse um texto DISSERTATIVO sobre responsabilidade social voltada para a preservação do meio ambiente incluindo aí economia de energia elétrica.
Mas propostas são para losers. Pessoas verdadeiramente criativas fazem suas próprias propostas. E eis que a futura cadeira da ABL "produz" o seguinte texto:

"O SELO PROCEL DE ECONOMIA DE ENERGIA ou simplesmente Selo Procel, foi instituído por Decreto Presidencial em 8 de dezembro de 1993. É um produto desenvolvido e concedido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - Procel, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia – MME, com sua Secretaria-Executiva mantida pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A – Eletrobrás.
O Selo Procel tem por objetivo orientar o consumidor no ato da compra, indicando os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria, proporcionando assim economia na sua conta de energia elétrica. Também estimula a fabricação e a comercialização de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente.

No processo de concessão do Selo Procel, a Eletrobrás conta com a parceria do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro, executor do Programa Brasileiro de Etiquetagem-PBE, cujo principal produto é a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia –ENCE, sendo também a Eletrobrás, parceira do Inmetro no desenvolvimento do PBE. Normalmente, os produtos contemplados com o Selo Procel são caracterizados pela faixa “A” da ENCE."

(Caso alguém não tenha percebido, isso É o texto de apoio. A gênio copiou).

E conclui assim: "Eu acho que o selo procel é muito bom porque ajuda as pessoas a economizar energia."

É com pesar que informo que esta pessoa encontra-se atualmente matriculada na oitava série de um colégio particular. E vai passar de ano.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Novembrite

A novembrite é uma doença de causas ainda desconhecidas que ataca principalmente crianças e adolescentes em idade escolar. Uma vez que professores também têm apresentado sintomas semelhantes, os pesquisadores investigam se a doença não seria transmitida por vias respiratórias, portanto facilmente propagável em ambientes cheios e fechados como salas de aula. Recebeu este nome devido à sua incidência nos últimos meses o calendário escolar, sendo notada já a partir da segunda metade de outubro e se espalhando rapidamente, a ponto de deixar poucos ilesos após o feriado de 15 de novembro.

Os sintomas da novembrite variam de acordo com a idade dos afetados. Em crianças e adolescentes ela caracteriza-se por falta de concentração, sono incontrolável, desleixo material e pessoal - falta de livros, lápis e as vezes banhos. Verifica-se também um aumento sensível na frequência de palavrões e brigas em sala de aula, fato que colabora para o agravamento dos sintomas observados em adultos. Estes são: apatia, tremedeira, irritação constante, queda de cabelo, falta de apetite e de voz.

Embora pesquisas venham sendo feitas nesse sentido, ainda não há cura para a novembrite. Felizmente não há registros de mortes causadas pela doença (o caso do professor atingido por uma cadeira durante uma explicação sobre as leis de Newton ainda está sob investigação). Além disso, a novembrite é claramente sazonal e parece desaparecer assim que são concluídas as últimas recuperações, o que costuma acontecer antes da metade de dezembro.

Aparentemente a única maneira de evitar a novembrite é manter distância de escolas, matinês, shopping centers ou qualquer outro lugar onde se aglomerem adolescentes. Caso isso não seja possível, recomenda-se para os adultos o consumo de antidepressivos ou álcool em quantidade moderada para fins de relaxamento. Quanto aos alunos, ainda não foram encontrados tratamentos mais eficientes que um bom puxão de orelha e um mês sem o playstation.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Eu tenho um aluno particular que, toda vez que precisa dizer a palavra "funny", acaba pronunciando "fanny". E não adianta eu corrigi-lo. Não adianta explicar para ele que "fanny" é a versão inglesa ligeiramente chula para aquela parte que só meninas têm. Para ele todas as festas e todos os finais de semana são "fanny".
E aí eu lembro que estou reaprendendo a dirigir e que por mais que o intrutor me lembre eu SEMPRE esqueço de soltar o freio de mão quando vou sair.

Cada um com seu talento, não?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Filhotes de coruja

Dos muitos livros que eu li quando criança (oi, eu era nerd desde pequena), os três preferidos, de longe, eram Alice no país das maravilhas (ainda não superado como número um), Reinações de Narizinho e As fábulas de Esopo. Adoro fábulas até hoje, essa coisa de bichos falantes, da liçãozinha de moral tão óbvia no final. Me divirto horrores. E, lendo um comentário do tio Xavier, não pude deixar de lembrar da fábula da coruja e da águia.
O tio diz que para criar inimizade com uma mãe basta dizer que o filho dela tem um "problema", qualquer que seja. Filhos são perfeitos. E até eu, que não fui e nem pretendo ser agraciada com a "dádiva" da maternidade, aprendi isso a duras penas em reuniões de pais e recados trocados em agendas.
O menino obeso é apelidado de "Nhonho". A mãe, revoltada, escreve um bilhete exigindo providências. No lanche, continua mandando refrigerante a batata frita. A garota faz fofoca, ri dos colegas, mente. Acaba excluída pelos outros alunos. A mãe acha que a escola tem obrigação de forçar as crianças a se relacionar com ela. Podemos dizer "mãe, sua filha é uma cobrinha peçonhenta. Terá um futuro brilhante na área corporativa, mas no quesito 'fazer amizade' não vai rolar"? Não, não podemos.
Que cegueira misteriosa será essa que atinge as mães? Afetará todas, sem exceção? Terá cura? Não sei não, mas desconfio que basta uma mulher parir para se tornar uma completa idiota*.


*E incluo nessa categoria Dona Neide, que há quase trinta anos me acha a pessoa mais sensacional do planeta.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pópópópó pópópópó

Estou sossegada ouvindo um Portishead e corrigindo alguns exercícios pra nota do ensino médio. No meio das folhas de fichário da Pucca e de caderno arrancadas, dou de cara com uma folha xerocada. Na minha inocência me pergunto por que raios a criatura teria feito os exercícios e xerocado depois, mas por via das dúvidas vou vasculhar a pilha dos corrigidos. Lá está, num lindo papel cor de rosa, o original, com o nome de outra aluna.
Isso, criançada. A gênia simplesmente tirou cópia dos exercícios da outra, com a letra da outra, tomando o cuidado, claro, de cobrir o nome e por cima colocar o seu. Xerox, gente! Se tivesse copiado em outra folha com a própria letra eu NUNCA ia saber, mas XEROX!
A cara de pau (ou a burrice) não tem limite. E a fé na cara de palhaça da professora menos ainda.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

No colégio 1 temos dois irmão, gêmeos, com problemas muito sérios de aprendizagem. Repetiram a quinta série ano passado e, aos catorze anos, iam repetir mais uma vez. Comunicada disso, a mãe decidiu tirá-los do colégio e colocá-los em uma escola pública. Lá, ficou sabendo que, pela idade deles, os meninos não poderiam frequentar o curso regular, tendo que fazer o supletivo noturno, coisa impensável visto que os dois não têm maturidade nenhuma. Aos catorze anos são crianças, colecionam figurinhas do Pokemon, ou seja precisam realmente de acompanhamento psicológico. Com isso, sabem o que a mãe fez? Simplesmente parou de mandar os filhos para a escola! Há dois meses eles não apareciam no colégio e tampouco foram transferidos para qualquer outro lugar. Ciente de que poderia ser responsabilizada por isso pela diretoria de ensino, a coordenação da escola procurou a mãe e fez com que os garotos voltassem.
Agora eles estão lá. Não fizeram provas, perderam dois meses de aula e obviamente não têm a menor condição de passar de ano. A mãe pode perder a guarda dos meninos (que são adotados) por ter negado a eles o direito de estudar e o colégio pode ser acusado de omissão. E estamos falando de gente que, ao menos ao que parece, financeiramente teria total condição de ajudar esses garotos.
Dá raiva. Vontade de bater na cara dessa mãe e perguntar: "Você é retardada? É idiota? Não percebe que tem alguma coisa errada com os seus filhos? Não entendeu ainda que a escola já fez tudo que podia por eles?"
Essa pelo menos pode mesmo ter a "licença de mãe" cassada. Mas aí a gente faz o que com quem não tem culpa nenhuma disso?