sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Reunião de feedback da Feira cultural era pra ter acabado as três da tarde. Três e meia, sem almoço, alarme do "já deu" começa a apitar no meu cérebro. Três e quarenta, para alegria geral, a diretora fecha o notebook e diz que acabou. Professora de Arte levanta a mão e diz:
"Dona fulana, é que eu tenho uma proposta para a feira do ano que vem e queria que a senhora ouvisse..." Sugere reformular completamente a exposição. Diretora abre o notebook.

"Linchamento" é uma palavra que deve ter passado pela cabeça de muita gente no recinto.
Discussão sobre as vantagens do passado sobre o presente. Aluno da oitava série dá sua preciosa opinião:
"Teacher, no passado era melhor porque não tinha AIDS. Aí uma mulher na África transou com um macaco e ferrou tudo."

E cadê o professor de Biologia a uma hora dessas? Cadê?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O mito da professora mal comida

O mito da professora mal comida data da Grécia antiga, quando o primeiro aluno levou uma bronca da mestra debaixo de um pé de oliveira e cochichou com o colega do lado: “O marido dessa daí dormiu de túnica essa noite.” Dali para frente a desmoralização da sociedade, a falta de educação dos alunos e o crescente mal humor das professoras levou à consolidação do mito da mal comida, que sofreu variações designatórias ao longo dos tempos. Inciou-se com um “velha recalcada”, passando pelo clássico “marido dormiu de calça” até chegar ao moderno “é falta de (insira aqui vocábulo chulo para o orgão sexual masculino).”

Outras profissões compartilham a fama de mal comidas das docentes, como bibliotecárias, funcionárias públicas e a quase extinta categoria das donas de pensão. Costuma recair sobre as professoras, entretanto, a culpa pelas amarguras da humanidade, visto que é com elas que o cidadão comum passa grande parte do seu tempo até os 17 anos pelo menos. Com isso, o fantasma da mal comida pode perseguir um sujeito pelo resto da vida dele:

“Eu não passei no vestibular porque minha professora de Matemática é uma mal comida.”

“Eu não consegui a promoção porque vou mal em estatística e a culpa é daquela professora mal comida.”

“Eu voto no Lula por causa da mal comida da professora de...”

E por falar no nosso presidente, cer-te-za que ele teve uma mal comida logo na primeira série, tão mal comida, mas tão mal comida, que obrigou o coitadinho a abandonar a escola. Culpa da falta de (insira aqui vocábulo chulo para o orgão sexual masculino) que assola a nação.

Esclarecimentos

Não, Tia Paula não ficou subitamente importante e por isso resolveu exigir pulseirinhas coloridas para que as pessoas freqüentem seu blog. Antes fosse. Se eu tivesse ficado subitamente importante talvez houvesse uma quantia considerável de dinheiro envolvida no caso.
Acontece que uma colega do trabalho, com boas intenções, (e nós sabemos bem onde boas intenções costumam morar, não?) espero, resolveu falar dos meus blogs para a sétima série. E a molecada veio, é claro, fuçar furiosamente. Embora eu mesma não ache que há algo muito comprometedor por aqui uma vez que eu não cito nomes, não faço acusações graves e não ofendo ninguém, entendo que eles têm 13 aos e dificilmente não levarão o conteúdo aqui escrito para o lado pessoal. Por questões de manutenção do meu emprego, portanto, decidi trancar o Tia Paula vai à guerra pelo menos por enquanto. Confio na memória curta dos petizes e tenho esperança de que em breve eles esquecerão que Tia Paula tem blogs.

Obrigada pela colaboração,

Tia Paula.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mitos escolares

“Fulaninho é inteligente, só que é vagabundo.”

Sinto informar, mas você se fodeu, fulaninho. Imagina se o Einstein fosse vagabundo. Passaria suas manhãs de sábado coçando o saco ou as noites no bar enchendo a cara e pegando doenças venéreas, ao invés de desenvolver a teoria da relatividade. Se o cidadão é, portanto, reconhecidamente inteligente (não importa como foi feito esse reconhecimento), ser vagabundo só vai provar que a inteligência dele não serve pra coisa nenhuma e portanto não faria diferença se ele fosse burro.

“Fulaninho nunca gostou de estudar, nem foi para faculdade, e olha aí: se deu bem na vida.”

Quantas pessoas você conhece para encaixar nesse exemplo? O suficiente para tornar isso uma regra? Não, né? Então não vale. E aposto que quem quer você coloque aí é inteligente e nem um pouco preguiçoso. Ou absolutamente sortudo, tipo a Victoria Beckham.

“Fulaninho nunca precisou estudar para passar em prova nenhuma.”

Opção a) Fulaninho está na sexta série.

Opção b) Fulaninho estuda ou se formou em alguma UniEsquina da vida.

Porque se o fulaninho resolver passar numa faculdade decente e concluir o curso, ele vai ter que sentar a bunda na cadeira em algum momento.

“Não existe gente burra.”

Ah, existe. E como. Gente que não acha importante ouvir música decente, ler livros de verdade (não “Código da Vinci” ou “Violetas na Janela”), escrever direito... E isso não é ignorância não, seria ignorância se o cidadão não tivesse acesso a coisas melhores. Conheço dezenas de pessoas que têm acesso e preferem acompanhar a novela. Isso é burrice.

“Fulaninho vai mal na matéria porque odeia o professor.”

Talvez. Mas a chance de ele ir mal na matéria por ser burro e vagabundo é infinitamente maior.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Alguém me explica?

Porque eu desisti.
Eu já disse por aqui que a escola pra mim sempre foi meio fácil, que eu era CDF e blá blá blá. Não estou me gabando. Certeza que para você, leitor mais ou menos da minha geração, a escola foi fácil também. Assim como para seus colegas.
Eu não tenho lembranças de colegas indo muito mal nas provas. Sofrendo para aprender tabuada. Perigando repetir de ano na terceira série. Repetir de ano? Meo deos, isso era para os maus elementos, aqueles que a gente tinha medo de chegar perto.
Pois hoje elas sofrem. Aprender, para várias, é uma luta diária. Lembrar coisas básicas do tipo olhar a agenda pra ver se tem lição de casa exige um esforço quase sobre humano. Compreender padrões, lógica, raciocinar sobre qualquer coisa é para elas um mistério maior que a vida após a morte. E isso aos nove anos.
A escola está mais difícil? Muito pelo contrário.
As crianças estão mais burras? Difícil dizer.
"Idiocracy" tinha razão? Temo que sim. É o Darwinismo ao contrário mostrando suas garras.
Vira e mexe aparece um estudioso querendo provar que internet e video games deixam as pessoas mais inteligentes. Mas onde é que estão estas pessoas? Criando essas crianças é que não é. E eu nem vou discutir isso por que não tenho dados e não pesquisei. Tudo que eu digo aqui é no chute, baseado no que eu vejo diariamente na escola. Vejo crianças dependentes, inertes e, desculpem, burras. A molecada que estudou comigo na segunda série era mais esperta que a quarta série para a qual eu dou aula hoje.
E isso me preocupa muito, mas muito mesmo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Pequena da terceira série chega para mim no meio da aula e diz "Quero ir no banheiro!" Eu, de saco cheio, viro para a classe e pergunto: "E aí, turma, por acaso é assim que se pede para ir no banheiro?" Pequena 2 levanta o braço e responde: "Não teacher, é Quero ir AO banheiro."

Da próxima vez eu fico quieta, juro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Todo mundo odeia a psicopedagoga

Cheguei ao colégio hoje de manhã e dei de cara com uma figura oxigenada vestindo uma camiseta que tinha uma gravatinha e colete estampados e calçando saltos de acrílico (urgh!). Sentada num canto da sala da coordenação (que, como eu já disse por aqui, tembém é enfermaria e biblioteca), anotava furiosamente qualquer movimentação – de crianças espirrando até as piadas das professoras. Coordenadora explicou – é estagiária. De quê, gizuiz, pra ficar na sala da coordenação e não na classe? De Psicopedagogia, respondeu a criatura.

Eu não se já falei por aqui da minha antipatia com psicopedagogas. Antipatia não. Ódio mesmo. Psicopedagogas são mulherezinhas bregas que fazem uma pós-graduação mequetrefe e se acham habilitadas a meter o bedelho no trabalho de gente que enfrenta uma sala de aula cheia de monstrinhos há anos. Não falo nem por mim, que bem ou mal estou começando também, mas pelas outras. Muitas psicopedagogas nunca entraram numa sala de aula e vêm querer aplicar Piaget para ensinar tabuada a duas dúzias de crianças ensandecidas.

Mas espera aí? Psicopedagogia não é curso de pós-graduação? Desde quando tem estágio? Pois a UNIFIEO fez o favor de criar um curso de graduação desta coisa. Sem vestibular e com a mensalidade bem baratinha, o que significa que daqui a três anos ela despejará no mercado dezenas de mulherezinhas bregas que nunca entraram numa sala de aula vomitando Piaget por aí.

O fato é que a mulher do salto de acrílico (meus olhos! meus olhos!) passou a manhã inteira fazendo observações “pertinentes” e enchendo o saco da coordenadora e de qualquer professora que passasse mais de cinco minutos na sala. Tentamos empurrar a mala para o recreio, para a aula de Arte, mas o negócio dela era na coordenação. Porque afinal, ela será uma Psicopedagoga, não uma reles professora. Ódio cada vez maior dessa raça.

Na hora de ir embora eu precisava passar no shopping para buscar uma calça que tinha ficado arrumando. Quatro quarteirões da escola, distância que eu ia enfrentar de ônibus em vista do sol escaldante, mas ao me dirigir ao ponto dou de cara com quem? Com a mulherzinha da camiseta de gravata. Fui a pé. Imagina se ela resolve conversar comigo?

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Eu juro que essas coisas acontecem!!!

Prova de química: "Por que o ácido sulfúrico blá blá blá Whiskas sachê?"

Gênio do colegial: "Porque ele é um sal."

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Psicologia infantil nível avançado

Colega minha, mãe de dois meninos de 11 e 16 anos:
"Eu não sei qual é a dificuldade dessas mães em controlar os filhos... É como cachorro... Fez xixi no tapete? Leva tapa. Deu a patinha? Ganha biscoito. Com criança é a mesma coisa..."

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Professor de Geografia corrigindo recuperações com aquela cara de "meo-deos-do-céo-o-que-é-que-eu-fiz-pra-merecer-isso?":

"Foda, né Paulinha... A genta passa o trimestre inteiro falando da China, que a China é isso, que a China é aquilo... Pra quê? Pra chegar na prova e o cidadão escrever que 'a China é um país subdesenvolvido, não industrializado e com altíssima taxa de natalidade'. Nêgo tá me zoando, né?"

Eu digo: Não, fessor, não tá. E esse cara aí, além de não saber nada de Geografia, não assistiu nem o Fantástico esse mês.