quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Primeiro dia de aula na sexta série e já me ferrei. Fui professora dos monstrinhos em 2006, quando eles estavam na quarta série. Ou seja, eles já sabem que eu sou boazinha. Minha performance "bruxa-sanguinária-de-primeira-aula" não colou.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Da série: Só podia acontecer comigo

Essa aconteceu em 2002, quando eu dava aulas num curso de inglês lá na Vila Mariana. Uma das professoras que trabalhava comigo me ofereceu um aluno particular que ela queria deixar. Alegou que era um garoto de dez anos, que ela não tinha mais paciência para dar aula pra criança, etc e tal. O valor da hora-aula era bom, era perto de casa, topei.
A esquisitice começou no primeiro telefonema de contato com a mãe do garoto. Antes de decidir se me contratava ou não, ela perguntou se eu era magra, e explicou que o filho dela não gostava de professoras gordas. “Adorei” a idéia de dar aulas para um moleque tão mimado que se achava no direito de escolher suas professoras por tamanho, mas como eu me encontrava dentro da faixa de peso aceita pelo fofinho e precisava do dinheiro extra, decidi ir em frente.
O endereço já era bem insólito. Um casarão cinza ao lado de um viaduto, numa avenida movimentadíssima perto de uma estação de metrô. Totalmente fora de contexto. Entrei pela garagem, onde havia várias máquinas de lavar industriais e muitas moças, andando de um lado para o outro, carregando lençóis, cortinas e coisas do gênero. Por dentro era tão estranho quanto por fora. A casa era imensa, escura, com móveis pesados espalhados aleatoriamente. A mãe era uma mulher obesa, de uns quarenta anos, cabelos grisalhos e desgrenhados e uma voz muito grave, que ela usava para dar ordens o tempo todo às moças que circulavam por lá.
Logo descobri que eu não era paga para dar aula de inglês ao menino, e sim para pajeá-lo. Eu ajudava na lição de casa, inventava jogos, ficava controlando o computador. Não era tão ruim, apesar da bagunça da casa (nós ficávamos na sala de jantar) e da chatice do moleque que era, como o esperado, um pequeno déspota.
Um dia, fim de mês, fui até o escritório da mãe no fim da aula para receber o pagamento. Como a porta estava aberta, fui entrando. Ela estava no telefone, e fez sinal para que eu entrasse e sentasse. Continuou falando, no mesmo tom alto de sempre, sem a menor cerimônia. E foi realmente como se eu não estivesse lá que a mulher soltou a pérola:
_ Eu já sei, já sei. Vou me livrar dessa menina o mais rápido possível. Ela só dá dor de cabeça, beija os clientes na boca, fica perseguindo os caras...
Entenderam, né criançada? Tia Paula estava dando aulas literalmente para um filho da puta!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Picles de reunião pedagógica

- "Vocês têm até dia x para DAR O START no projeto schlebts." Anglicismos mal utilizados insistentemente só não são mais irritantes que feriado de domingo.

- Os assuntos preferidos das professoras que trabalham comigo são: marido, filhos, dieta, prisão de ventre e escova progressiva. Percebe-se porque eu não consigo conversar com elas por mais de dez minutos.

- A dona do colégio é uma senhora muito chata e certinha que estava bem atrás de mim enquanto eu contava uma história e dizia, em voz bem alta: "O fulano chegou em casa com o saco na lua!"

- Em determinado momento alguém solta no meio da discussão: "Agora nós tocamos num ponto NELVRÁLGICO do problema".

Repito: pelo menos eu estou sendo paga por isso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Recebi o calendário de aulas e constatei, horrorizada, que praticamente TODOS os feriados do segundo semestre caem no Domingo. Existe coisa mais irritante do que feriado no Domingo?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Crônicas da FFLCH

Eu não sei como eu não contei isso antes. Eu me formei em Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, popular Fefeléche, habitat natural de hippies, indies, maconheiros, gente de teatro e todo o tipo de fauna urbana que se possa imaginar. Seis anos num lugar assim renderam, obviamente, infinitas histórias de alunos e professores e a partir de hoje vou compartilhar as mais insólitas com os leitores do blog. Começo com uma da pós-graduação.
Eu fiz duas matérias como aluna especial na pós da Letras. Aluno especial é aquele que, mediante aceitação do professor, freqüenta no máximo três matérias por semestre sem ter se candidatado oficialmente para o mestrado. Se passar, tem até dois anos para pedir a inclusão dos créditos caso se torne regular. Na Letras, equivale a ser um marginal, um vagabundo incompetente que não presta nem pra passar numa provinha idiota de mestrado (que de idiota não tem nada, envolve trabalho braçal, humilhação e muita puxação de saco).
Uma das matérias que eu cursava chamava-se Lingüística Cognitiva e era ministrada por um dos professores mais temidos do departamento de Inglês, o sr. Leland McLeary. Era dificílima até para quem tinha se graduado em Lingüística, que era o meu caso. Envolvia um monte de conceitos muito abstratos e uns textos gigantescos semanais, em inglês. Para piorar, o Leland aceitava um monte de alunos especiais, o que significa que na turma tinha muita gente caída de pára quedas, que tinha se formado em Jornalismo, Artes Cênicas e até Direito e sabe-se lá por que força maligna foi parar numa aula de Lingüística Cognitiva. Para cagar de vez, a aula do sr. McLeary consistia basicamente no velhote sentando na mesa perguntando para o povo: “O que vocês entenderam do texto da semana?”. Ou seja, eu passava quatro horas por semana escutando gente que nunca tinha ouvido falar em Lingüística tecer conjecturas sobre um texto do qual ninguém tinha entendido porra nenhuma. Um exame de papanicolau seria mais divertido.
Uma das paraquedistas era uma sujeita que ia para uma aula de sexta feira a tarde na FFLCH de escarpin, tailleur e bolsa Victor Hugo. Era advogada e, como tal, adorava dar opinião sobre tudo. Toda aula ela falava alguma merda que não tinha absolutamente nada a ver com o que estava sendo discutido. E comparava com Direito, óbvio. Quando a fulana levantava o braço, o povo já revirava os olhos e se entreolhava esperando o que viria pela frente.
Um dia nós estávamos discutindo metáforas e expressões idiomáticas e o professor questionou se expressões do tipo “Foi um parto para fazer tal coisa” ou “Fulano é um pé no saco” seriam adequadamente utilizadas por pessoas de diferentes sexos, já que são experiências que podem ser vividas só por mulheres ou só por homens. Ele queria saber se as expressões devem, necessariamente, ter um “pé” no real. Nisso a advogada levantou a mão:
“Isso não tem nada a ver, professor. Por exemplo, talvez ninguém aqui tenha literalmente ‘remado contra a corrente’, mas provavelmente já subiu a Brigadeiro num Ford Ka 1.0 com ar condicionado ligado!”
Tá, foi meio fora de contexto. Mas que foi a melhor comparação de todos os tempos, isso foi.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Pra ser lembrada

Eu não sei como meus alunos vão se lembrar de mim num futuro não muito distante. Se é que vão se lembrar. Talvez eu fique na memória deles como a professora do cabelo estranho que era incapaz de organizar uma lousa decentemente. As meninas talvez lembrem de mim como aquela das roupas legais. Pode ser que algum moleque me agradeça no futuro por ter apresentado Dave Matthews Band a ele e tenho certeza que tem gente que vai me odiar pra sempre por uma nota baixa considerada, na época, uma injustiça suprema. Alguns vão repetir meus trava-línguas para as próximas gerações, um ou outro talvez me credite seu ódio eterno pela língua de Shakespeare e a maioria, provavelmente, vai simplesmente me esquecer. Normal. Vou listar aqui alguns professores dos quais eu não esqueci, por motivos diversos:
Silvana (Jardim 3) – Me ensinou a ler, a diferenciar os números pares dos ímpares e a amarrar o cadarço do tênis. Também colocou um desenho meu em uma prova, para orgulho de dona Neide (que de tão orgulhosa esqueceu de guardar o teste).

Maria Célia (História, 6ª série) – Falava Francês, nos obrigava a forrar a carteira com uma toalhinha durante a aula e só aceitava as provas respondidas com caneta preta. Minha professora preferida de todos os tempos, de longe.

Lúcia (Geografia, 6ª série) – Japonesa hippie que ia dar aulas de chuteira e falava sobre reencarnação e experiências extra corporais.

Cacilda (Matemática, 7ª série) – Tem como esquecer uma professora chamada Cacilda?

Lúcia II (Física, 8ª série) – Japonesa também, usava uns saltos imensos e fazia desenhos ótimos. Era engraçada. Foi a única vez que me diverti estudando Física.

Ruiva estranha (Química, 1º colegial) – Não lembro o nome dela, mas lembro que ela vestia SEMPRE, sem exceção, legging, camiseta e tênis conga, tudo da mesma cor.

Diamantino (Química, 2º colegial) – Explicava química orgânica como ninguém, deixava a gente colar na prova e nos apresentou a teoria de Thantofazz.

Sílvia (Biologia, 2º colegial) – Dizia que os grandes amores da vida dela eram a filha, o Fábio Júnior, o sistema digestivo e o marido. Nessa ordem.

Márcia (Inglês, 2º colegial) – Estava se divorciando e passava aula toda falando mal do marido e contando os podres da família dele.

Maurício (Geografia, cursinho) – Úníco professor realmente pegável que eu tive.

Depois veio a faculdade, pródiga em professores figura. Esses merecem posts inteiros pra cada um. Qualquer dia eu conto.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Tia Paula continua de férias

E, com isso, ando completamente sem assunto. Então, numa iniciativa revolucionária, resolvi abrir espaço aos meus milhares de leitores e convocá-los para que me contem suas trágicas histórias dos tempos da escola. Ou, para os coleguinhas professores, que compartilhem comigo suas agruras diárias. Selecionarei as mais divertidas e postarei aqui de vez em quando (com os devidos créditos, obviamente), para alegria da galera. Os felizes escolhidos ganharão uma canetinha de gel e uma figurinha do Yugi-ho.
Colaborem gente! Esta professora em crise criativa conta com vocês!

P.S.: Tia Paula tinha esquecido de deixar o contato - mandem suas historinhas para tiapaulavaiaguerra@yahoo.com.br