quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Tia Paula vai à loja de bebês

Vendedores são como leões, que sentem o cheiro do medo e com isso atacam pobres zebras e gnus indefesos enquanto os mesmos pastam, incautos, pelas savanas africanas. A diferença é que vendedores sentem o cheiro não do medo, mas da inexperiência. Assim que me viu entrar, esbaforida, calorenta, carregando uma pilha de livros e uma bolsa gigantesca, a mocinha do crachá percebeu que eu nunca tinha estado em uma loja de artigos para bebê na vida. Percebeu que, para mim, aquele ambiente era tão perigoso e desconhecido quanto a savana africana. E afiou as garras.
Começou sutil. “Posso ajudar?” Devo ter lançado-lhe um olhar de “pelo amor de Deus” enquanto perguntava pela lista de chá de bebê número x. Ela sorriu, a malvada, e sacou de trás do balcão duas folhas contendo uma relação de itens que, supostamente, seriam de primeira necessidade para uma mãe e seu rebento recém-nascido. Da lista eu só conhecia três objetos: fraldas, chupetas e mamadeiras. Alguns eu fazia uma vaga idéia do que seriam e a maioria se qualificava como um imenso ponto de interrogação.
_ Fique a vontade.
O quê? Ela ia me deixar ali, sozinha, abandonada a minha própria sorte, embrenhada em uma selva de prateleiras cheias de produtos misteriosos em tons pastéis? Eu levaria no mínimo três dias para descobrir o que é um cueiro e ainda corria o risco de ser atropelada por um carrinho desgovernado ou me perder na seção de bichos de pelúcia antialérgicos.
Tratava-se, entretanto, de uma vendedora voraz. A líder do bando, possivelmente. Detectou um segundo de hesitação da minha parte e se apressou em tomar as rédeas da situação. Viu que eu estava perdida, insegura, e que faria qualquer coisa para sair dali o mais rápido possível. Presa fácil, portanto.
_ Que tal um esterilizador de mamadeira?
Fui então apresentada a uma espécie de cumbuca plástica com uma tampa, supostamente utilizada para tornar a mamadeira um objeto totalmente livre de germes malvados que possam adoecer o frágil recém-nascido. Custava 50 reais. Levando em consideração que minhas mamadeiras, nos idos dos anos setenta-quase-oitenta, antes do advento do microondas, foram esterilizadas no fogão e nem por isso fui um bebê menos fofo e saudável, comuniquei:
_ Eu queria alguma coisa mais em conta...
A fera não se fez de rogada:
_ Um escorredor de mamadeiras, talvez?
Era uma placa de plástico com ganchinhos de tamanhos diferentes, onde as garrafinhas do bebê devem ficar para secar após a lavagem. Pode muito bem ser substituída pela parte de secar copos do escorredor de louças e custava 25 reais. Comprei. Meu lado “não-tenho-talento-para-maternidade” foi acionado naquele momento, me implorando para que eu saísse daquele lugar estranho antes que algo pior acontecesse. Comprei uma coisa completamente idiota e acima do orçamento previsto por culpa de uma vendedora maligna e sanguinária, que num dia inspirado teria me convencido a ter um filho para desfrutar do mundo maravilhoso dos artigos infantis em sua totalidade. Culpa também do homem dentro de mim, que não passa de um mariquinha e se assusta com coisas inocentes como chocalhos, cueiros e esterilizadores de mamadeira.
Claro que, diante do “mariquinha”, meu macho interior retrucaria: “cauteloso”. No fundo ele tem razão. Afinal, nunca se sabe que perigos nos espreitam atrás de uma prateleira de leite em pó.

3 comentários:

Rodrigo Souza disse...

Passo pelo mesmo ao comprar presentes de casamento, só que não me preocupo em saber pra que as coisas servem. O casamento é deles e o problema, por conseguinte, é tampouco meu.

Chás de bebês me causam estranheza. A água quente não queima o bebê? perguntaria RainMan. E se o pequerrucho mijar dentro da panela? Prefiro deixar isso para mulheres, como culturalmente aprendemos.

- - -
Post scriptum: Se quiser, mude os underlines que você usa como travessões por Alt+0151.

(Ou copie daqui > "—")

Red disse...

Atualiza! Atualiza! Atualiza!
(tentando incitar a multidão)

Walter Carrilho disse...

Os vendedores da Marabrás estão fazendo escola,pelo jeito. Ninguém sai da loja deles sem comprar um sofá. É coisa do demo.