domingo, 8 de junho de 2008

Tia Paula vê o futuro

Festa junina do colégio. Barraca da pescaria. Para os não iniciados em assuntos juninos, a barraca da pescaria é o pior lugar para se trabalhar num evento desse tipo. Porque na pescaria todo mundo ganha. Sempre. Não é como na argola ou na boca do palhaço, onde te dão três chances e, se você for muito pequeno ou muito ruim mesmo, pode errar e não ganhar porcaria nenhuma. Na pescaria você recebe uma vara, se debruça no balcão e pode ficar lá eternamente, até pegar alguma coisa. E a pescaria lá no colégio é com os peixinho de madeira enfiados num tanque de areia e não boiando na água, portanto qualquer pessoa com o mínimo de coordenação motora consegue. Não preciso nem dizer então que a barraca da pescaria é a mais concorrida da festa e ser escalado para trabalhar nela significa horas de trabalho incessante, crianças gritando, pais tirando foto, dor nas costas e pernas de tanto abaixar para arrumar a meleca do tanque de areia.

E lá estava eu, com o saco na lua, minha companheira de barraca ocupadíssima batendo papo com alguém no canto e eu tendo que me virar em quatro para receber as fichas, entregar varinhas, recuperar peixes e entregar prendas que no dia seguinte estarão no lixo mesmo. Uma avó coloca um garotinho de uns seis anos para pescar. Mal pega na varinha, o moleque já me olha: “tia, me ajuda?”. Enquanto isso, a barraca lotava. Impossível. “Vai lá, rapaz, você consegue sozinho!” E corri para continuar atendendo todo mundo. Como assim “tia, me ajuda?” Menininhas menores que ele estavam pegando um peixe atrás do outro. Minha vontade foi de responder: “deixa de ser mole, moleque!”.

O fato que o garoto era ruim mesmo. Péssimo. Não conseguia nem colocar o anzol perto do tanque. Nisso a avó me olha: “dá uma ajudinha pra ele...” Dez crianças ensandecidas gritando “Tiaaaaaaaaaaaaaa!”, um calor infernal, eu praticamente sozinha na barraca e a velha acha que eu vou mesmo poder parar tudo e ficar segurando a linha do incompetentezinho para que ele ganhe um caminhão de plástico. Nessa hora baixou a mãe Dinah e tia Paula viu o futuro. Vi o moleque com seus vinte anos, sendo acordado pela mamãe com um copinho de leite com ovomaltine. Vestindo uma pólo rosa da Lacoste e indo para sua aula no curso de Administração da PUC. Indo para as micaretas de fim de semana e tratando suas ficantes e namoradinhas feito lixo. Xingando a mãe. Dando caixinha para o policial não multar. Resumindo, vi o garoto se tornando um ser completamente dispensável para a sociedade.

Tá, tô exagerando. Mas que eu fico puta de ver pais, tios e avós tratando suas crianças como se elas fossem a única coisa importante do universo inteiro, isso eu fico mesmo.

2 comentários:

Gabriela Martins disse...

Excelente previsão, Tia Paula. Se não mudarem a linha e se alguma providência do destino não ajudar, vai dar é nisso mesmo.

Paulo Bacalhau disse...

Será q ele vai ter capacidade de um dia "pegar" mulher sem a ajuda da avó?