quinta-feira, 12 de abril de 2007

Tia Paula vai ao terceirão

Resto de verão em São Paulo e a dengue, que não nos decepciona, atinge este ano os bairros abastados, onde não há pneus nem cascos de cerveja no fundo dos quintais. A vítima da vez foi a professora de inglês de 5a série até o colegial da escola onde combato, digo, leciono, para os pequenos do Fundamental I. Recrutada numa quinta-feira a noite para substituí-la de emergência na sexta, fui recebida sete horas da manhã por professores bastante solícitos: “Você vai para o terceiro colegial? Meus pêsames...”, “Logo no terceirão, é? Se prepara.” ouvi, entre outras manifestações de apoio. O caso é que o terceiro colegial do colégio é um clássico: sala cheia (45 alunos), mais homens que mulheres, direção paternalista até o osso, do tipo que deixa a molecada fazer o que quiser (“ano que vem eles estão fora daqui mesmo”). Tudo isso aliado a professores mal humorados que começam a aula com um “Bom dia? Só se for pra você”. Era o que me esperava.
A preocupada coordenadora, entretanto, achou uma solução: dividiria a sala em duas, organizaria grupos de estudo e eu simplesmente circularia tirando dúvidas uma vez que eles teriam prova na semana seguinte. Nada de “tentar dar aula”. Encarei o arranjo como uma total falta de confiança no meu taco, mas não retruquei. Sete horas da manhã da sexta-feira de uma semana desgraçadamente corrida, era melhor que fosse assim.
Devo neste momento esclarecer que eu estava usando calça jeans e o jaleco do colégio – será relevante para o andamento da história – que é a coisa mais sem sex-appeal da face da terra. Além de ser comprido, fechado e de uma cor estranha (algo entre o cinza e o azul-pálido) era dois números maior que eu. Algo entre operário da Ford e frentista de posto. Pois bem. Meia hora de aula, seguindo recomendações eu ainda não tinha dado um sorriso, tudo parecia correr bem. Ao menos eu não sentia no ar nenhuma ameaça de rebelião ou coisa do gênero. Um grupo de três garotos me chama no fundo da sala:
_ Digam.
_ A Claudia (coordenadora) disse que você vai ensinar tudo pra gente. É verdade que você vai ensinar tudo pra gente? _ Adicionem uma entonação sexual nesse segundo tudo e compreenderão minha vontade de responder: _ Vai pra casa bater uma punheta pra playboy do mês, seu nojentinho!
Não podia. Respirei fundo e retruquei:
_ Por que você não vai catar coquinho? _ E eis aqui uma demonstração do meu apego a expressões fora de moda. Qual seria a versão repaginada (e permitida em sala de aula, obviamente) para “vai catar coquinho”?
Me afastei. Do outro lado da sala um grupo de meninas tinha uma dúvida de verdade, que precisei resolver na lousa. Ao fim da explicação, concluí:
_ Alguém tem alguma pergunta?
_ Qual é seu telefone?
Essa eu não vi de onde veio. Pode ter sido do grupo dos taradinhos. Ou dos quatro com cara de nerd no canto esquerdo, dos grandões com ar de bobo logo atrás... Eu não tinha como saber. Me senti acuada, inesperadamente exposta, pronta pra ser fuzilada. Felizmente a aula estava acabando.
Tá, tá, não vou bancar a professora inocente e puritana. Já tive 17 anos e sonhos semi-eróticos com meu professor de Geografia do cursinho (Maurício, minha tara por barba já data daquela época). Não vou me enganar achando que, apesar de não ser a Juliana Paes, nenhum moleque nunca me rendeu uma homenagem num banheiro qualquer. Deve ter acontecido. Eu só preferia não ser confrontada com este fato. E eu estava de jaleco, porra!

2 comentários:

Unknown disse...

ok...a molecada nao perdoa, mas pq usou a palavra semi?

amanda. disse...

o melhor professor que eu tive foi o de inglês do terceirão.
mas não melhor nesse ponto, era muito competente.

e eu soube depois que ele pegava aluninha... hahahahahahaha