sexta-feira, 30 de março de 2007

Quando resolvi ser professora, achei que seria diferente. Eu até tentei, juro. Queria ser a professora cool, tatuada, gente boa. Queria ser amiga da molecada, achava que seria uma maneira inteligente de ganhar o respeito deles. Eu estava errada, por uma série de motivos que discorro a seguir.
Crianças de doze anos não são capazes de dialogar. Aos doze anos eles ainda não compreendem que um sorriso de bom dia não significa “vão em frente, podem gritar a vontade, hoje estou de bom humor”. Nessa idade, elas costumam achar que a maior demonstração de rebeldia que podem dar é atirar papel na lousa e mascar chiclete na frente da professora. Parecem só responder a ordens diante de ameaças – não aprenderam ainda as vantagens de se negociar bom comportamento em troca de uma aula mais leve e divertida. Só funcionam no grito. Salvando um ou outro, encaram o professor como um inimigo a ser combatido e não como alguém que pode tornar a vida deles muito mais fácil desde que eles se esforcem minimamente. A maioria é preguiçosa, distraída e resiste bravamente a idéias novas do tipo “às vezes basta ler o enunciado direito para resolver uma questão”. Não encaram a reprovação como algo terrível, não desenvolvem problemas de auto-estima diante de fracassos em série. Pior que repetir o ano, para eles, é não ganhar um Nike Shox no natal.
Com o tempo melhora. Já consigo sorrir e contar uma piada no primeiro colegial. Antes, só sendo carrasca. No início eu me culpava, achava que tinha falhado, que tinha que existir um jeito melhor de lidar com isso. Hoje, quando eles me abraçam e me agradecem depois de uma hora seguida de esporro, sinto que, infelizmente, estou no caminho certo.

2 comentários:

henrique disse...

vc parece ser uma professora bem legal :D

amanda. disse...

e sabe o que é pior? ouça os professores de faculdade, eles falam a mesma coisa.

alunos NUNCA mudam.